Empresa demitiu parte dos funcionários por mensagens no Whatsapp. Muitos ainda não assinaram os documentos da rescisão do contrato. Grupo tem dívida trabalhista de mais de R$ 55 milhões de reais.
Após a repercussão da operação da Polícia Federal na sede do Grupo João Santos, no Recife, funcionários da Usina Itajubara, localizada no município de Coelho Neto, no Maranhão, fizeram um protesto em frente à portaria da empresa no último sábado, 22. A usina demitiu parte dos trabalhadores através de mensagens pelo Whatsapp, e não teria pago os direitos trabalhistas. Além disso, vários colaboradores ainda não foram chamados para assinarem os documentos da rescisão contratual.
Os funcionários pedem que os órgãos de investigação não esqueçam das empresas que atuam no Maranhão. “A gente pede, encarecidamente, a justiça, ao Recife, que veja Coelho Neto, Itajubara, aqui no Maranhão”, pediu Margareth da Silva, que trabalhou por 20 anos na empresa. A ex-funcionária afirma que foi demitida em 2018, mas até agora não recebeu nada.
“Aqui nós temos mais de 800 pessoas que, desde 2018, não recebe. São pais de família, teve gente até que já morreu por conta de ansiedade e de depressão, por conta da empresa. É uma falta de respeito de um grupo que tem dinheiro, que a gente viu que tem, e deixar a gente passar necessidade. É muita falta de respeito, de consideração, sabe?”, desabafou Margareth.
“Trabalhei 33 anos e 6 meses no Grupo João Santos, sai com a mão na frente e outra atrás.” Reclamou o ex-funcionário Antônio Ferreira, que completou: “Nós viemos aqui fazer um apelo, pedir, olhem por nós, porque nós estamos abandonados”, concluiu.
A ex-trabalhadora da usina, Angela Ferreira de Araújo, também se queixou da falta de respeito da empresa com os funcionários “Foram 20 anos de dedicação a essa empresa, e o que aconteceu é que eles me demitiram pelo WhatsApp. Essa foi à consideração que eles me deram.”, encerrou, Ângela.
Também conseguimos contato com uma funcionária que ainda trabalha na empresa. Ela não quis se identificar porque tem medo de sofrer retaliação, mas afirma que os descontos sempre vieram nos contracheques. “Descontaram plano de saúde por um tempão, quando a gente ia nas clínicas pra se consultar, estava cancelado. O FGTS nunca pararam de descontar, só que não tem fundo, não tem nada”.
Ela também reclamou que um dos donos da empresa sempre estava na cidade ostentado. “O doutor José Santos, que vivia aqui, era trocando de carro o tempo todo. Quem está no Grupo João Santos hoje, todos estão passando necessidade”, desabafou a funcionária.
Outro funcionário, que também não quis se identificar por ainda estar trabalhando, reclama que a diretoria da empresa continua recebendo salário. “Trabalho aqui desde 1974, nós fomos vítimas do Grupo João Santos, eles não pagam do jeito que é pra ser. Eles não valorizam. Mas só os peões que não recebem, os gerentes recebem. Como é que eles tem os diplomas deles, são formados e tudo mais, e tão lá fazendo o que? Porque estão ganhando. Então quem não está ganhando são os pobres. O pessoal que corta a cana não recebe”, concluiu.
A reportagem do Blog Ricardo Antunes entrou em contato com a Usina Itajubara. Por telefone, conversamos com o supervisor de RH da empresa, Carlos Barros. Ele informou que a usina continua ativa, mas que, como atuam na moagem da cana e na produção de etanol, as operações estão paralisadas por conta do período da entressafra da cana-de-açúcar, mas que devem ser retomadas em junho.
Sobre as denúncias de não pagamento dos direitos trabalhistas, ele explicou que grande parte dos funcionários já ingressou com ações judiciais. “O Grupo João Santos na região está se mobilizando para tentar sanar os débitos com os funcionários. O problema é que, como os funcionários que entram na justiça pedem que os bens da empresa sejam penhorados, ficamos sem ter nem como nos desfazer de bens para pagar. Cerca de 80% dos bens do grupo na região estão bloqueados”, explicou Carlos Barros.
No dia 05 de maio uma operação conjunta da Polícia Federal, da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e da Receita Federal, denominada Background, cumpriu 53 mandados de busca e apreensão, além de sequestro e bloqueio de bens e valores do Grupo João Santos e de outros investigados que fazem parte do grupo em Pernambuco, São Paulo, Amazonas, Pará e Distrito Federal.
A polícia informou que o Grupo João Santos é suspeito de organizar um sofisticado esquema contábil-financeiro para desviar o patrimônio das empresas do grupo. Esses valores eram transferidos para sócios e interpostas pessoas (laranjas).
Segundo a Procuradoria da Fazenda, as empresas do Grupo João Santos têm dívidas tributárias, de R$ 8,6 bilhões, e trabalhistas, de R$ 55 milhões. Elas são suspeitas de sonegar impostos e direitos trabalhistas de centenas de empregados. Os trabalhadores, de acordo com as investigações, ficavam sem receber salários e outros direitos trabalhistas.
De acordo com a Receita Federal, mais de 20 empresas do grupo eram utilizadas num esquema chamado de “factoring”, para desviar receitas que poderiam ser usadas para quitar dívidas trabalhistas e tributárias. Também foi verificada a ocorrência de subfaturamento em exportações, “com o claro objetivo de remeter, ilicitamente, recursos ao exterior”.
Foram apreendidos bens como relógios e bolsas de luxo, dinheiros em espécie, 17 embarcações, 27 esculturas, 29 quadros, porcelana portuguesa e obras de artes dos artistas José Bernardino, Reinaldo Fonseca, João Câmara e Lula Cardoso Ayres.
Os crimes investigados, segundo a Receita federal, são sonegação fiscal, apropriação indébita, evasão de divisas, frustração de direitos trabalhistas, operação de instituição financeira não autorizada e lavagem de dinheiro.
FONTE: Blog do Ricardo Antunes
Adicionar comentário