Você já se perguntou alguma vez por que se pinta os meios-fios de ruas, avenidas e praças? Esta é uma prática bastante comum em países de terceiro mundo e, no Brasil, em cidades de pequeno porte, embora também seja usual nas capitais. No nordeste, folcloricamente as vésperas de grandes inaugurações ou eventos importantes nos municípios, costuma-se passar cal para reforçar a ideia de limpeza e manutenção das vias publicas.
Para explicar é necessário voltarmos no tempo. Antes as ruas das grandes cidades serviam apenas para circulação de pedestres, cavalos e carroças. Com o surgimento do automóvel foi necessário estabelecer normas de trafego, pois o número de acidentes nas ruas foi enorme. Em cidades grandes como as americanas a calçada praticamente estava no mesmo nível das ruas. Com isso, as autoridades pintaram o meio-fio para servir de guia para os novos motoristas, assim, não subissem nas calçadas que passaram a ser o local mais apropriado para pessoas circularem em segurança. Dá para imaginar alguém em visita a alguma dessas cidades e, achando a pintura como um elemento de modernidade, trazendo essa ideia para as nossas cidades.
Grande parte de arquitetos e urbanistas tem horror a meio-fio pintados de branco, pois vai contra a sobriedade da cena urbana e mais importante, sem funcionalidade alguma. Em países de primeiro mundo essa pratica inexiste deixando a paisagem urbana mais sóbria e discreta. Em cidades que tem seu centro histórico tombados essa pratica é proibida pois interfere na paisagem que se pretende preservar.
No Código de Trânsito Brasileiro não existe normas sobre pinturas de meio-fio na cor branca. Apenas pintam-se parte do passeio público nas esquinas ou nas áreas de estacionamento exclusivas ou proibidas, que são na cor amarela. Não deve se confundir com a pintura no asfalto, que essa sim é regulamentada como sinalização horizontal.
Outra coisa comum nas cidades brasileiras é pintar o tronco de arvores na cor branca. Esse ato é conhecido como Caiação. Da origem dessa prática existem duas explicações. A primeira vem da época napoleônica. Dizem que o imperador Napoleão, um grande estrategista, temendo que seu exercito sofresse ataques surpresas nas florestas durante o descanso, ordenava que se pintasse de branco os troncos das arvores. Isso facilitava que o inimigo fosse descoberto, caso aparecesse entre as arvores. E como Napoleão conquistou grande parte da Europa, deve-se imaginar uma imensa área de florestas pintadas e que os povos mantiveram essa tradição.
Mas o mais aceitável, pelo menos aqui em nossa região, é de que essa pratica de pintar a base das arvores impede que formigas e pragas alcancem as folhas. Não passa de folclore, pois o cal evita apenas que algumas espécies de formigas subam nas arvores e mesmo assim por pouco tempo. E o pior é que o cal, apesar de matar alguns fungos, mata também microorganismos essenciais para o desenvolvimento da arvore. Em alguns municípios brasileiros existem leis que proíbem a caiação.
Hoje a pintura em arvores não passa de estética, tanto que passaram a pintar também postes de iluminação. Lendas ou não, a origem parece pouco importar, pois a pintura de equipamentos urbanos já está cravada em nossa cultura.
Por Eziquio Barros
Eziquio Barros é Arquiteto e membro da Associação Amigos do Patrimônio Caxiense, da Academia Caxiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.
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